VESTIDO VERMELHO
- Boa noite, é um triste fim de dia para todos os brasileiros que nos assistem, pois acabamos de ser notificados que a famosa cantora que fez sucesso nos anos cinquenta e sessenta, Anabethe Meneiro, foi encontrada morta no quarto do seu apartamento usando seu famoso vestido vermelho. A notícias que temos...
A chuva forte tornava difícil ouvir o que a repórter do jornal falava, fotos de Anabethe apareciam na televisão, em todas ela usava seu lindo e marcante vestido vermelho. A cantora agora já tinha seus sessenta e poucos anos, nas entrevistas mais recentes que teve, ela aparecia sorrindo, e parecia cheia de vida. Sua voz melodiosa ainda enchia o palco de programas e estádios, todos ansiosos para ouvir suas canções que traziam aquela sublime sensação de calmaria e felicidade.
Olhando ao redor, alguns dos poucos clientes que estávamos na cafeteira derramaram lágrimas de tristeza pela morte da cantora, outros, apenas observavam a notícia com uma feição neutra. A maior parte dos residentes ali, fazia parte do asilo que se encontrava perto do café.
Era por volta de umas sete da noite.
- Tinha tanto a dar, e se matou.
- Amélia!
Três senhoras sentadas mais ao fundo do café, tomavam chá e olhavam pra TV, uma delas balançava a cabeça e resmungava algo enquanto adicionava açúcar a pequena xícara fumegante, outra, enxugava o canto dos olhos com um lenço, e a outra, comia um pedaço de bolo sem prestar atenção na tela.
- Não diga uma coisa dessas.
A senhora retirou a colher da xícara e deu leves batidinhas no canto.
- É uma verdade, a fama sobe a cabeça e isso acontece.
Fazendo o sinal da cruz, a senhora com o lenço abaixa a cabeça.
- Que Deus a tenha.
- Ela já era famosa, você acha mesmo que Deus não gostava mais dela do que de nós?
A que comia o bolo levantou a cabeça.
- Deus ama a todos igualmente.
- Sim, tão igualmente que ela era rica, e nós estamos abandonadas naquela asilo fedorento.
Me aproximei da mesa para colocar mais chá nas xícaras.
- Por isso, digo, todo famoso deve ter um fim ruim, devemos igualar com eles em algo.
- Amélia está lendo muita poesia melancólico.
A senhora do lenço agradeceu pelo chá com um aceno de cabeça, a outra estendeu o prato que avia o bolo.
- Você poderia me trazer mais um pedaço de bolo querida?
Sorri em sua direção.
- Claro senhora, - Me virei para a que mexia o chá com a colher- Quer mais?
- Não, não.
- Sabe, eu não acho Anabethe sortuda.
Ela levantou o olhar para mim.
- Porque?
- Ela está morta, a senhora não. Mesmo que viva em um asilo fedorento, ainda não morreu, ela sendo famosa sim, a fama não livra ninguém da morte, não á sorte no mundo que faça isso.
Uma mão macia segurou a minha.
- Não discuta com Amélia querida, ela sempre foi pessimista.
Balancei a cabeça e sorri.
- As senhoras precisam de mais alguma coisa?
Amélia levantou a mão.
- Sim, me traga um vestido vermelho, serei a próxima Anabethe Meneiro.
A senhora com um lenço piscou pasma, e a dona do bolo balançou a cabeça.
- O que é isso agora Amélia?
Eu me segurei para não rir, e falei.
- Não servimos vestidos vermelhos aqui, mas tenho um bolo com morando em cima, são vermelhos.
Amélia olhou para as outras duas na mesa.
- Traga três pedaços, hoje, comemos em homenagem a Anabethe Meneiro e seu vestido vermelho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário