Babys.

MANHÃ;

 As ruas estavam vazias, era o melhor horário para sair. 

06h00 

No fone alto Black in Black tocava, o som na guitarra amaciando meus ouvidos. 


   - “Back in the back, of a Cadillac, number one with a bullet, I'm a power pack” 

Podia sentir meu corpo todo vibrar. 

Mesmo que a manhã estivesse fria, a jaqueta preta me impedia de sentir qualquer coisa. A caminhada até a faculdade não era tão longe, mas o prazer de poder ouvir música alta na rua sem ninguém no mundo era surreal. Passo pelo parque perto do campus, e vejo uma garota sentada em um dos balanços de lá, não é a primeira vez que faço esse trajeto, e nesse horário. Mas é a primeira vez que vejo alguém lá tão cedo. 

Me encosto no poste perto de mim, e a observo. A playlist aleatória no meu fone toca “It’s Raining Man” o que me faz rir. Os cabelos longos dela descem pelo banco e cobrem seus ombros como um casaco, sua cabeça está inclinada par baixo, a uma bolsa encostada em seus pés.  

Olho o relógio no meu pulso, daqui a alguns minutos as pessoas vão começar a sair, e isso ficara movimentado. Olho novamente para a garota que continua na mesma posição. 

  - Não é uma má ideia. 

Tiro os fones de ouvido e começo a atravessar a rua em sua direção, ela parece não me ouvir se aproximar pois não reage até que eu esteja perto o suficiente para que veja meus sapatos. Ela levanta a cabeça surpresa, e me encara. Nesse momento, o ar sai pelos meus pulmões, o motivo de sua cabeça estar abaixada era um livro que está sobre suas pernas, a saia rosa pastel que usa deixa suas coxas expostas, a pele bronzeada me hipnotiza, e fico curioso para sentir a maciez do seu corpo. Usa uma blusa branca de manga longa com laços nas pontas, a camisa tem um certo decote, mostrando o início dos seus seios o que faz meu cérebro não raciocinar direito, seu rosto é delicado e bronzeado como o resto, a boca reluzindo pelo brilho lábia rosa. Seus olhos eram grandes como de um personagem da Disney, o óculos preto harmonizava com seu rosto de uma maneira linda, deixando sua aparência ainda mais inocente. 

Naquele momento, me senti o Diabo em frente a um anjo. 

  - Olá, precisa de ajuda? - Ela quebra o silencio, cortando meus pensamentos. 

Sua voz era tão bela que senti minha nuca arrepiar, fazendo minha mão automaticamente tocar no local. 

   - Você é um anjo?... - Sussurro baixo para mim mesmo. 

“Santo Deus, eu realmente disse isso?” 

   - Desculpe, o que? 

Ela fecha o livro e ainda me observa.  

Essa garota conseguiu me deixar desestabilizado sem fazer absolutamente nada. 

Suas sobrancelhas se juntam em confusão e ela guarda o livro, sem tirar os olhos de mim, seus olhos rapidamente desviam e sua feição parece preocupada. 

“Diga algo, idiota!” 

    - Desculpe, eu esqueci os modos. Não quero lhe incomodar, apenas fiquei curioso de ver alguém aqui tão cedo, faço esse percurso todo dia, e posso ter certeza de que nunca te vi. 

“Eu nunca esqueceria se já tivesse visto uma garota como ela.” 

Digo isso e lanço um sorriso suave em sua direção. Seu rosto relaxa minimante, ela põe uma mexa de cabelo atrás da orelha, e tenho que colocar minhas mãos no bolso para impedir de tocar em seu cabelo também. 

   - Ah, bem, é sim, é a primeira vez que venho aqui, eu queria ler, e sabia desse lugar, resolvi vir. 

Sua voz ainda me causa arrepios pelo corpo, mas disfarço qualquer reação. 

  - Entendi, bem meu nome é - Antes que pudesse terminar a frase, meu celular soa um alarme, pego no bolso, e a tela me avisa que já são 06h45 e que deveria estar na faculdade. Desligo o barulho estridente, e quando a olho novamente, está em pé me olhando, ela é baixa, provavelmente uns 15 ou 20 centímetros mais baixa que eu. 

“Deus, isso é algum tipo de presente para mim?” 

Não lembro de ter sido muito bondoso nos últimos tempos para estar recebendo isso. 

  - Pode de dizer que horas são? - Sua boca me prende, e me seguro para não pedir um beijo em troca de dizer as horário. 

Volto a colocar as mãos no bolso, e abaixo a cabeça em sua direção. 

  - Seis e quarenta e cinco. 

Seus olhos se abrem mais do que achei possível, e seus lábios se afastam levemente, aquela visão me deixa sem folego. 

  - Eu estou atrasada! 

Ela pega a bolsa e passa por mim, antes que se afaste, seguro seu pulso levemente e a puxo contra meu peito, fazendo suas costas me tocarem. 

  - Arthur. Venha mais vezes para me ver. - Sussurro no seu ouvido, seu cheiro doce invade meu corpo, e solto seu braço, ela me olha com as bochechas vermelhas, e volta a correr. Observo seu caminho e percebo que conheço o trajeto.  

Olho para cima e dou um sorriso. 

  - Estudamos no mesmo lugar? Sério?  

Começo a caminhar em direção ao campus, afinal, eu também estava atrasado.

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