MONSTRO;
Quando uma criança teme o monstro
debaixo da cama dela, elas não dormem de medo, os adultos podem até se abaixar,
olhar, limpar e dizer que não há nada lá, ainda sim, isso não será o suficiente
para fazer com que a criança não imagine que alguma criatura vá puxar seu pé em
algum momento durante a noite.
03h00
A quanto tempo aquilo está ali? A
cama sempre esteve tão quente assim? Minha mulher está dormindo, mas nem ouso
sua respiração. Sinto minhas costas molhadas de suor.
Faz quanto tempo que eu acordei?
Santo Deus, parece que não sinto meu corpo a anos. Aquilo está na minha porta a
tempo demais para eu lembrar, parado, sem nenhum movimento. O vestido é o mesmo
que coloquei na minha filha depois de lhe dar um banho, o ursinho na mão, as
pantufas. Aquela criatura está vestida do mesmo jeito que ela.
Lembro de suas palavras antes de
sair do quarto;
“Papai?”
“Sim querida?”
“E se tiver um monstro embaixo da
minha cama?”
‘Suas mãos pequenas seguravam o
cobertor até o queixo, o ursinho era apertado pelo seu braço que o segurava
fortemente, seus cabelos loiros espalhados pela cama, e seus olhos azuis me
encarando.
“Querida, monstros não existem.”
“Mas papai, eu já vi ele embaixo
da minha cama, é assustador, e ele mora debaixo da minha cama.”
‘Um suspiro escapa da minha boca,
o dia foi cansativo, eram quase onze e meia da noite, e eu já não conseguia
mais manter os olhos abertos.’
“Você quer vir dormir com o papai
e a mamãe?”
‘Ela balança a cabeça, e posso
ver suas mãos apertarem mais o cobertor. Me aproximo da cama e me abaixo, vejo
brinquedos espalhados, alguns lápis e pulseiras de miçangas, fora isso nenhum possível
monstro.’
“Bem dona moça, não a nada aqui embaixo
para temer”
‘Seus olhos continuam me
encarando.’
“Mas, se algo aparecer, pode
gritar, e o papai virar jogar o monstro pela janela, e mandar ele embora, ok?”
“Tá bom.”
‘Me aproximo de sua testa, e
deposito um beijo ali, fazendo um leve carinho em sua bochecha.’
“Boa noite, minha princesa”
“Boa noite, papai.”
Acredito agora que ela realmente
estava certa, avia algo debaixo da sua cama, não era apenas a sujeira, e os
brinquedos, avia algo a mais lá, algo macabro, maligno, que não pude enxergar.
O longo pescoço daquela coisa se mexeu,
fazendo os cabelos se movimentarem, os cabelos dela.
- Papai...
Aquela voz... minha espinha se
arrepiou e senti meu estomago embrulhar.
Aquilo usava o rosto da minha
filha como uma máscara.
Avia sangue pela roupa dela, os
olhos do ursinho foram substituídos pelos seus olhos azuis, fazendo uma imagem perturbadora.
O terror tomava conta do meu
corpo, podia sentir meu interior se contorcendo.
De repente, aquilo se aproximou, sua
face a centímetros da minha. A pele da minha filha caindo sobre mim. Eu ainda
podia sentir o cheiro de xampu nos seus cabelos.
- Papai...
“Quem deve temer, quando aquilo
que as crianças temem no escuro se torna realidade?”
Assim
como as crianças, que no escuro tremem de medo e temem tudo,
nós, na claridade, às vezes temos receio de certas
coisas
que não são mais terríveis do que aquelas que as
crianças temem
no escuro e pensam que acontecerão a elas.
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