Babys.

DOIS;

 Dois;

     Estavam os dois deitados na grama, em cima de um monte pequeno na parte mais escondida de um parque.
      A garota estava com o rimel borrado no rosto, os lábios vermelhos e inchados, botas, um vestido florido branco sujo nas postas por um pouco de sangue e barro, as duas mãos na barriga, e uma grande cólica. O garoto estava com o rosto embranquecido, a respiração tensa, uma forte dor na garganta, o estômago embrulhado e a visão um pouco turva.
       A noite estava silenciosa, estava ventando, mas deixava o clima frio. Eles chegaram lá pelo carro da garota, o caminho todo sem se comunicar, apenas o silêncio perturbador. Ali deitados, nenhum dos dois sabia o que fazer.
       - Você.. o que está sentindo? - A garota não virou o rosto para perguntar, mas seus olhos desviaram levemente em sua direção.
       - Dor de cabeça, muita dor de cabeça. E parece que meu corpo vai desligar a qualquer momento.
        A menina apertou as mãos sobre a barriga.
        - Não me deixe sozinha aqui..
        Ele viu as mãos dela se apertando, e podia sentir o tremor da sua voz.
        - Tudo bem, não vou.
        Ela engoliu em seco, com a tentativa de evitar começar a chorar novamente.
         Ele respirou fundo, e se arrependeu logo em seguido, a dor que seu tórax produziu ao respirar fez sua visão escurecer, e teve que tensionar todos os nervos para não desmaiar de novo.
          - Ainda está com dor?
          Seus olhos abaixaram, e ela começou a tirar o esmalte das unhas.
           - Um pouco, doi quando sento, e muita movimentação faz a dor ficar mais forte.
           - Eu sinto muito. - Ele não sabia o que dizer. Nenhum dos dois sabia exatamente como conversarem. Estavam na mesma casa, um cômodo de diferença. Tudo aconteceu rápido demais, nenhum dos dois queria se olhar nos olhos, ou melhor, não tinham coragem para isso.
        Ela deitada, ele no sofá da sala; sua barriga doía e de repente sangue desce pelas suas pernas, seu peito dói, ela corre para o banheiro. Ele na sala pega a caixa de remédios, aumenta o volume da teve, pega os últimos cinco antidepressivos que faltavam, moe todos, mistura na água e bebe.
      A dor continua, o sangue aumenta, quando chega na banheira ela grita, a dor não para, muito sangue escorre; A visão fica turva, o garoto se segura no balcão, a cabeça tonta, o estômago embrulhado, as forças indo embora.
        Ele cai, e a dor dela para.
        Ela teve um aborto.
        Ele provocou a própria overdose.
        Ela chora incansavelmente vendo aquela coisa na banheira, sangue vermelho vivo se espalha, ela nem alcança a torneira.
        Ele está no chão, seu coração bombeia rápido, e na tentativa de respirar, ele vomita contra o chão, é violento, seu estômago se contorce, antes que tente se levantar, novamente se contorce e volta a botar tudo pra dentro.
         Os olhos marejados e tremendo, ela se levanta, troca a roupa por um vestido, e sai do banheiro. A cozinha fede, e o garoto esta quase deitado sobre o próprio vômito. Ela bebe um pouco de água, e o observa no chão.
O rosto branco, a boca suja, seu corpo tendo pequenos espasmo. Ela senta ao seu lado, ignorando o odor pelo local.
       Ele inclina a cabeça em sua direção. Então ela o ajuda a levantar, troca sua roupa, e os dois entram no carro.
        - Me desculpe.
        A garota então vira o rosto para ele, e deixa uma lágrima escorrer.
        - Acha que somos assim em todos os universos?
         Ele não a olha, mas alcança sua mão e a aperta.
        - Eu não sei.
          Ambos fecham os olhos, a dor dos dois é diferente.
           A vida odeia aqueles que vivem, pois, estar vivo, significa ter o destino de morrer.

Nenhum comentário:

Marca paginas

Versos. (8)