Babys.

HOTEL;

 HOTEL;

“Eu sei que é besteira acreditar em coisas sobrenaturais, eu sempre fui cética em relação a isso. Sempre costumei ser uma pessoa noturna, e nunca tive problemas com isso, era normal para mim passar noites em claro, afinal, trabalhar em hotéis a beira da estrada exigia que você se acostumasse com o tempo parado do local sem pegar no sono a qualquer momento.”

02h45 PM

 

Hoje como sempre não era diferente, estico minhas costas na cadeira giratória, sentindo meu corpo tenso de tanto ficar sentada. O hall estava vazio como sempre, o único barulho que se ouvia era do rádio em cima do balcão que tocava uma música baixa, e vez ou outro um carro passava na estrada trazendo algum som até mim.

Vejo as câmeras pela tela do computador, e bocejo sem ânimo. A pouca quantidade de clientes fazia com que a noite parecesse mais longa do que o normal. Pego meu celular e verifico a conexão com a internet, notando que mais uma vez a área do local tinha sumido completamente, me fazendo ser obrigada a passar as próximas horas jogando ‘Paciência’ no computador, o que era uma grande ironia. De repente, as luzes da entrada piscam e falham por alguns instantes, até desligarem completamente, fazendo com que tudo fique ainda mais silencioso.

Reviro os olhos, pego a lanterna na gaveta e me levanto.

- Hotelzinho mixuruca de merda.

Passo pela porta giratória e caminho até a lateral do prédio em direção a caixa de fusíveis. Faço o procedimento padrão para que as luzes voltem a reacender.

- Desligue tudo, conte até dez, ligue um por um, deixando o interruptor do hall por último.

Havia decorado aquele padrão mais rápido que achei que precisaria, bastou duas semanas trabalhando nesse moquifo para perceber que ao menos três vezes na semana a luz caia completamente.

Assim que faço o processo, olho para cima e vejo a luz de algumas janelas voltarem, e respiro, fechando a caixa. Aponto a lanterna para a estrada vazia, fecho os olhos e me estico novamente para relaxar, quando volto a abri-los, sinto meu corpo retesar, e meu coração palpitar mais forte, a uma sombra, na beira do prédio, parada.

Pisco novamente e esfrego os olhos, ao mirar de novo, a coisa não estava mais lá. Sinto minhas pernas tremerem, e um suor frio se formar em minha testa.

- Que merda foi essa?...

Caminho novamente até a entrada, olhando para os lados. Passo pela porta e volto a me sentar atrás do balcão, respirando fundo, e relaxando na cadeira.

- Ok, relaxe, deve ter sido só o cansaço, você precisa de uma folga.

O rádio chia sem nenhum som, pego o celular e verifico as horas; 03h10.

Me levanto e mudo os canais até que algum som apareça, um saxofone baixo começa a tocar em alguma linha, e deixo que o som invada o espaço. Encosto minhas costas na cadeira e fecho os olhos momentaneamente, acalmado meu corpo com o som calmo que o aparelho traz.

Sorrio sozinha, rindo da situação, e me surpreendendo pelo tamanho medo que senti.

- Foi bizarro. – Digo par mim mesma.

Quando abro os olhos aquilo está em frente ao balcão, me olhando, aquela criatura me encara, negra como a noite, seus olhos enormes me observam. Sinto meu corpo tensionado, minha respiração pesada, meu coração bate tão forte que mau escuto o som do rádio, aquilo suga o ar dos meus pulmões, me deixando zonza de pavor.

As luzes então piscam novamente, o rádio volta a chiar, e tudo apaga, deixando um breu a minha frente. Meu corpo tremendo incontrolavelmente, lagrimas quentes escorrem pela minha bochecha.

Aproximo minha mão do balcão, buscando a lanterna, meus dedos encostam levemente no cabo gelado do objeto, e a seguro com força. Tenho que fazer uma grande pressão para conseguir ligar o objeto e a luz branca saltar em meio a escuridão. Não a nada a minha frente, meu corpo me impede de virar o rosto, e meu cérebro mal consegue raciocinar o que fazer.

De repente, as luzes voltam, me cegando repentinamente, minhas pernas quase falham ao tentar levantar. O Hall está vazio novamente, o rádio volta a tocar, ainda sim, o medo não deixa meu corpo, pelo contrário, sinto meus nervos cada vez mais doloridos, minha respiração baixa, minhas mãos tremendo.

Pego meu celular e de maneira desajeitada tento discar o número da polícia, a falta de área impede o celular de concluir a ligação, e minhas mãos tremem cada vez mais.

As luzes falham, e tudo volta a escurecer, A luz do celular impede a escuridão completa, lagrimas caem descontroladamente do meu rosto. Lentamente, levanto meus olhos, e aquilo está lá, me observando, mais perto, cada vez mais perto.

O celular apaga e o terror me consome de tal maneia, que sinto o próprio demônio me tocar.

 

“Como eu disse, coisas sobrenaturais são histórias para crianças, e toda vez que você acha que viu algo, significa que você voltou a ter dez anos, e está com medo de abrir os olhos depois de ter escutado um barulho no armário. É quase uma piada, se essas coisas realmente existissem, elas fariam muito mais do que só bater portas, e ligar ou desligar uma luz.”


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