Babys.

Prosélito (Capítulo 9)

 Prosélito 

Capítulo 9 

     A sala dela permanecia no mesmo lugar. 

   Fiquei um pouco surpreso por minha mãe ainda lembra do endereço, e ainda mais do nome dela.  

   Suspiro fundo, olhando ao redor. Havia uns pequenos quadros nas paredes brancas intactas, plantas nos cantos do corredor, o que deixava o lugar com a impressão de aconchego. 

   Se bem me lembro, eu detestava esperar aqui. Sentava nas cadeiras acolchoadas, e ficava de cara fechada até meu nome ser chamado. Minha mãe sempre me pedia para que eu me arrumasse na cadeira, e para que sorrisse quando a doutora chegasse, mas naquela época, era mais fácil eu avançar e morder a mulher, do que sorrir para ela.  

  Sou tirado dos meus pensamentos quando a porta é aberta, e uma mulher com os cabelos grisalhos e o rosto suave me olha.  

   - Olá querido, pode entrar.  

    Sorrio sem graça, e ponho a mãe na nuca.  

   - Desculpe, eu estava procurando a doutora Laila.  

   - Sou eu mesmo Arthur, poxa, agora você fez eu me sentir muito velha.  

    Sinto minhas bochechas esquentarem, e minhas mãos suarem. 

   - Não! Por favor, não se sinta assim, eu só... é que, fazia muito tempo que eu não via a senhora, eu me esqueci do seu rosto... me desculpe. - Digo completamente sem jeito, desviando o olhar. 

   Ela solta uma pequena risada, e abre espaço para que eu entre. 

   - Bem, você está bem mais falador do que quando criança. Agora vamos, entre, você parece querer conversar.  

     Concordo levemente, e adentro o local. Havia os mesmos postes lá, olhando aqui, me sinto com dez anos novamente, entrando emburrado na sala, e sentando na poltrona que era alta demais para meus pés encostarem no chão.  

    Me sente na mesma cadeira de sempre, sentindo uma sensação de conforto com o local. Laila parece ignorar a mancha que cobre metade do meu corpo, e parece se espalhar mais.  

   Ela pega uma prancheta na mão com alguns papéis presos a ela, e se senta em seu lugar virada para mim.  

  O silencio que paira entre nós não é ruim, pelo contrário, sinto que ela consegue me ler somente olhando em meus olhos. Um sorrio está em seu rosto, o que ressalta algumas marcas dadas pela idade.  

   Junto minhas mãos sobre as pernas, e relaxo o corpo, fechando os olhos.  

  - Amanhã é seu aniversário, não é?  

   Ouço sua voz chegar até mim, e concordo com a cabeça.  

   - Sim. - Solto uma risada fraca, e a olho. - Vinte e seis anos, o tempo está me deixando menos jovem. 

    Ela anota algo no papel, e volta a me observar.  

    - Arthur.  

    - Sim?  

    - Como está?  

    Eu não sabia o que deveria falar para ela. Não é como se ela fosse minha psicóloga particular, como se estivesse me acompanhando a anos, ou se quer como se fossemos íntimos, mas, por algum motivo, quero contar tudo a ela.  

     Suspiro profundamente, e me levanto da poltrona, agora sentando no chão, e cruzando as pernas.  

     "Essa cadeira é uma merda, lembrei porque odiava ela.” 

     - Eu... nunca parei de ver aquelas coisas. - Falo por fim, depois de alguns minutos. 

    - Eu imaginei.  

    Levanto meu rosto em sua direção. 

    - Sabe Arthur, todas as pessoas que trabalham com informações pessoas de outras pessoas, são obrigadas a assinar um documento sobre proteção de dados. E não podemos falar nem mesmo a polícia, a menos que tenha um bom motivo. - Ela me olhava com ternura. - Você nunca foi o único Arthur, eu já recebi diversos pacientes que apresentavam os mesmos sintomas que você.  

   Agora é a vez de ela suspirar, e olhar para baixo.  

   - Todos, sem exceção, morreram aos vinte e cinco anos. E eu nunca esqueço um paciente, até hoje tenho sua ficha no meu sistema, eu sei que dia você faz aniversário, e quando eu soube que fez vinte e cinco, eu chorei.  

   Minha boca se abre em surpresa, e meus olhos parecem mais abertos. 

   - Você era a única criança que eu conversava, que detestava falar sobre o que via. - Ela ri, como se uma memória tivesse aparecido. - Lembro que, você sentava nessa poltrona, e reclamava muito sobre como ela era desconfortável.  

    Um sorriso se forma em meu rosto, quando a lembrança também vem a minha mente.  

     - E não vou mentir, você era difícil de ler dês daquela época, nunca sabia o que se passava na sua cabeça.  - Ela agora me olha novamente. - Mas, o que mais me fez gostar de você, foi que você nunca chorou em uma sessão. Sua mãe dizia que isso era estranhos, pois você chorava muito em casa, mas comigo, você nunca derramou uma lágrima.  

     Ela então se levanta da poltrona que estava, e senta em minha frente, segurando minhas mãos.  

     - Você sempre aguentou tudo Arthur, nunca, nem uma vez, você deixou seu medo tomar conta de você, e isso me dava tanto orgulho. Na época, eu te amei tanto quanto uma mãe ama, e sim, eu tinha outros paciente, mas você... Arthur, nunca teve ninguém tão forte quanto você. - Ela sorri em minha direção, e sinto meu peito esquentar.  

   Suas mãos então se afastam da minha, e ela levanta limpando uma lágrima do canto dos olhos. 

    - Perdão por isso, não foi nada profissional. - Laila senta na sua cadeira novamente, e seu rosto está levemente vermelho. 

    - Tudo bem, eu estava precisando de algo assim. - Digo.  

    - Bem, e essa tatuagem? É muito realista. - Ela troca de assunto, e aponta para mim. 

    Apoio a cabeça no estofado da poltrona atrás de mim e olho para o teto. A imagem dupla que tenho do teto branco, e o Valum é incomoda, mas meu cérebro parece ter se acostumado com isso.  

    - Bem, não é exatamente uma mancha. É complicado de explicar, vamos colocar que, é como uma doença. - Viro minha cabeça para ela. - E está me cobrindo aos poucos.  

    Ela concorda.  

   - E o que vai acontecer quando você estiver completamente coberto? 

   Balanço os ombros, olhando para a janela na sala, e vejo o sol forte lá fora.  

    - Não sei, talvez eu morra.  

    - Já tentou ir ao hospital?  

    - Não gosto de hospitais.  

    - Eles podem te ajudar. 

    - Não acho que possam. 

    - Por que?  

    - Porquê... - Fecho meu olho direito, e a imagem do Valum parece se ampliar. 

Gostaria de poder ver Sarah uma última vez.” 

   - Porque quando eu estive lá, eles não me deram respostas. E eu não preciso delas, afinal, sei porque isso está acontecendo.  

     Ela concorda novamente.  

    - Então, pretende apenas esperar? - Sua pergunta me faz pensar e não sei direito quanto tempo levo para responder, mas, antes que as palavras passem pela minha boca, um som de batida surge da porta.  

    Olho em direção, e a uma senhora com a cabeça para dentro da sala. 

   - Laila, seu outro paciente está esperando.  

   Viro o rosto então para a doutora, que encara o relógio no pulso, e se levanta.  

    - Meu Deus, já se passaram quinze minutos do fim da sessão.  

  Me levanto do chão, e caminho até a porta, a esperando. Ela se aproxima de mim, e segura a porta para que eu vá. 

     - Que bom que pareceu Arthur, fico muito feliz em ter tido uma última sessão com você.  

     - Por que última? - Digo, antes de ir embora.  

    - Você disse que tinha algo te consumindo, e que não adiantava ir ao médico, então deve ser minha última vez te vendo. - O outro paciente passa por mim, e ela puxa a porta para trás de si.  

    - Doutora.  

    - Sim?  

    - Seu eu voltar, pode me atender, de novo? 

     Ela se aproxima de mim, e tira um fio de cabelo do meu rosto. 

    - Claro querido, sempre terá um espaço na minha agenda para você. - Um sorriso aparece no seu rosto. Vejo- a entrando novamente na sala, e fechando a porta.  

     Olho para a mancha em me braço, e fecho a mão.  

   - Bem, próxima parada, Restaurante Leandro. 

. 

. 

. 

    Hoje é sexta, então o local provavelmente estaria lotado uma da tarde. Passo algumas horas na parte de trás do restaurante até que o local esvazie.  

   Eu sabia exatamente como funcionava a dinâmica dali, então, a parte mais difícil foi ter paciência para esperar que chegasse as três da tarde.  

    Ouvi as portas da frente fechando, e me preparei para entrar pelos fundos, felizmente eu ainda tinha a chave dali, então não era um problema. Destranco a porta, e adentro o local tão bem conhecido, os aventais no mesmo lugar de sempre.  

   No corredor consigo ouvir algumas pessoas conversando, e decido ficara ali na área de funcionário mesmo, seria o melhor lugar para conversar.  

   - Puta merda! - Para a minha surpresa, a primeira pessoa que aparece é Camila.  

   - Eai. - Digo, sorrindo em sua direção.  

     Sua feição parece bem assustada, e me toco o porquê da reação.  

    - Ah, Camila, sou eu, Arthur.  

   Ela pisca algumas fezes, até se aproximar. 

    - Arthur? Padre de Dios... No eres tu... O que diabos aconteceu com você? - Ela toca no lado escuro do meu rosto, e vira ele de um lado para o outro.  

   - Eu sei, eu sei, algumas mudanças novas. - Ela segura meu rosto com as duas mãos, e me puxa em direção ao seu.  

   - Algumas? Arthur, parece que você vai virar a espécie de algum demônio.  

    - Camila? - Antes que eu pudesse responder, Eduardo aparece chamando pela garota.  

     Ele nos olha, e pela primeira vez, vejo ele assustado.  

    - Puta que pariu, que porra é essa aí? - Ele fala alto apontando em minha direção.  

   - Oh família, calma aí, agora vocês estão me ofendendo. - Digo, me sentindo um animal de circo.  

   - Arthur? É você? Que caralhos aconteceu com seu rosto? - Ele também caminha em minha direção.  

    - Eu estava perguntando a mesma coisa. - Disse Camila.  

    - Porque vocês estão gritando? - Dessa vez, quem aparece na porta é o garoto estagiário que não lembro o nome. - Nossa, que irado.  

   Um sorriso surge em meu rosto, e afasto as mãos de Camila. 

    - Vamos lá, uma coisa de cada vez. - Digo, fazendo um gesto com as mãos para que eles sentem.  

    Eduardo olha para Camila desconfiado, a qual só balança os ombros, e senta na cadeira virada em minha direção. O mais velho então apenas suspira e também se senta, o garoto caminha até nós, e dobra as pernas no chão, curioso. 

    - Eu vim me despedir. - Digo.  

    - Você vai morrer? - Camila pergunta?  

   - Não sei, talvez. - Respondo.  

   - Por que não vai a um médico? - Dessa vez, é a hora de Eduardo pergunta.  

   - Porque já decidi o que quero. - Digo por fim.  

   - Isso dói? - O garoto no chão pergunta. 

   Olho para ele, me lembrando de do início de tudo.  

   - Não, não dói. E eu só queria dizer que foi muito bom estar com vocês, que foram grandes amigos por muito tempo, e eu sinto muito pela perda de Victor, e Rafaela. - Digo, sem mais hesitação.  

    - Você sabe o que aconteceu com Victor? - A voz de Camila parecia triste. 

    - Ele morreu. - Respondo, sem intervalos. 

    O silencio paira na sala, e eu me levanto, lhes lanchando um sorriso.  

   - Espero que fiquem bem. - Digo por fim, saindo do local, sem esperar nada.  

    Quando o vento do lado de fora vem contra meu rosto, sinto um leve aperto do peito, como se ainda não fosse meu fim.  

    Caminho pelas ruas de cabeça baixa pensando em tudo.  

    “Eu acredito que tinha muita coisa que eles queriam me perguntar, muitos ‘porque, onde, quando, com quem’, e eu não iria aguentar tudo de novo. Não posso me permitir chorar de novo. Talvez não devesse ser meu fim agora, talvez eu ainda tivesse muito o que fazer, mas não tenho mais amigos aqui, não posso chegar perto de pessoas que amo sem coloca-las em perigo. Eu detesto parecer o herói da história, odeio fazer coisas honrosas, e que pareçam do bem, porque eu sou alguém cruel, que só pensa em si mesmo, e provocou a morte dos melhores amigos. Não a nada de heroico em seu eu. É por isso, que irei pôr um fim em tudo de uma vez por todas, por isso, hoje, será meu último dia sendo Arthur Spinna.” 

. 

. 

. 

      São josé não é conhecido por ter os maiores prédios do mundo. 

    Naquele momento, eu estava em La Montanã Gala, um hotel cinco estrelas de vinte e seis andares.  

   - Nossa, isso é até irônico. - Sorriso, olhando para tudo lá em baixo. 

   É engraçado como a altura distorce nossa visão. Quando estamos na beirada de algo muito alto, nosso cérebro tende a insinuar que estamos prestes a cair, que aquilo que está nos segurando está se dobrando no ar, e irá nos derrubar.  

    Claro, isso é um pouco hipotético, afinal, eu nunca tive medo de altura então essa sensação nunca aconteceu comigo. Tudo que sei sobre o pânico de altura, é que vem acompanhado de tontura, tremores, e suor frio.  

    Sabendo disso, excluindo apenas a tontura, consigo sentir os tremores e o suor frio pelo meu corpo. Me sente de costas para a beirada, encostado no muro de concreto. 

    - Suicídio. - Digo para mim mesmo. - Eu particularmente sempre considerei uma maneira estupida de acabar com os próprios problemas. Claro, a morte é uma solução permanente, mas para problemas passageiros.  

    Minha voz era baixa enquanto falava sozinho naquele terraço.  

   O vento era forte lá em cima, e o azul do céu cegava.  

   - Não é como se eu realmente quisesse morrer. - Olho para minha mão direita, e vejo que a mancha negra já quase a engoliu por inteira. - Eu só quero que tudo isso pare, e não acredito que vá haver outra forma de fazer isso.  

    Suspiro, fecho os olhos e abaixo a cabeça.  

   Naquela manhã, havia mandado uma mensagem para mim mãe.  

   “Olá mamãe. Eu sei que a senhora me pediu para que eu a fosse visitar, e pode apostar, eu queria muito, mas atualmente a coisas na minha vida que preciso resolver, e por isso, não posso ir até você.  

    Mas saiba, que eu estou bem, e que vou continuar fazendo o máximo para melhorar, porque eu sei que você me ama, e essa é a única coisa que me faz levantar de manhã.   

   Obrigado por tudo mãe, gostaria de poder voltar à época em que você me segurava nos seus braços, eu sentia o mundo em paz.  

    Eu te amo. Arthur” 

    A pior parte de se despedir de sua mãe, é ter a ciência que é sua mãe. Acho que enviar aquela mensagem foi mais doloroso do que qualquer coisa que eu tenha passado nos últimos dias.  

    - Vikfar, aparece aí, queria conversar com você. - Termino a frase, e levanto o rosto, olhando para o nada a minha frente.  

    Uma dor laciante então toma meu corpo, e sinto a mancha escura sair como se fosse minha própria pele. Aquilo então toma forma de uma cópia minha, e se coloca no chão, na mesma posição que eu.  

    - Não achei que fosse tão obediente. - Aquilo não me responde, e ainda sinto meu corpo doer.  

    - Antes que eu me jogue daqui e morra, poderia me dizer, o porquê de tudo isso? - Pergunto, e aquilo apenas me encara. - Você deve ter algum motivo, que acredita ser bom, ou sei lá que merda se passa pela sua cabeça. Apenas me diga... 

    Antes que eu concluísse a frase, aquilo se levanta, levando a mão até minha cabeça, e então, uma memória antiga retorna a mim.  

“Péssima ideia, péssima ideia. Que droga, eu deveria ter ficado em casa.  

   A floresta parecia mais densa e cheia a cada passo que eu dava. Minhas mãos estavam frias, e o fino casaco que minha mãe havia coloca em mim naquela manhã não servia de nada. 

   - Mamãe, mamãe! - Aquele era umas das poucas palavras eu sabia falar corretamente.  

    Minhas bochechas doíam, e eu sentia meus olhos lacrimejarem novamente.  

    Minha intenção não era ir longe, estávamos na casa da minha avó quando eu decidi brincar perto das árvores. Um cachorro apareceu, e então eu corri para dentro dos emaranhados de árvores. E agora, eu não sabia como voltar, e a noite escurecia cada vez mais rápido.  

     Os primeiros pingos de chuva começaram a cair, então caminho até perto de um tronco e me sento lá, encolhido e chorando, esperando alguém.  

     Subitamente, todo o frio se vai e os sons param. Abro os olhos lentamente, e vejo um local amplo, parecendo um deserto.  

   - Mãe? - Chamo novamente.  

    - Arthur. - Ouço meu nome ser chamado atrás de mim, e meu corpo se arrepia. Viro lentamente para trás, e lá havia um grande homem. 

   Pisco várias vezes, e sinto as lágrimas em meu rosto. Eu não conseguia ver sua cara, mas um medo me atingia enquanto ele estava perto de mim.  

   - Arthur. - Ele chama novamente, e fecho os olhos.  

    - Oi... - Digo, baixinho, tremendo.  

    - Amanhã, será seu aniversário, não é? - Abro os olhos, e o olho novamente, concordando.  

    - Eu perdi meu filho Arthur, você pode ser meu novo filho? - Limpo o rosto com as mãos, e seguro o tecido do meu casaco.  

    - Mas... Eu já tenho um pai, e uma mãe. - Respondo a ele.  

    - Tudo bem, você só tem que receber o presente que eu daria a ele, e quando fizer vinte e cinco anos, eu irei aparecer para buscar de novo.  

     Olho para o chão, pensando nos presentes que ganhei de natal, e pensando qual seria o presente que o moço a minha frente daria para o filho.  

    - Tá bom moço, eu fico com o presente. - Digo para ele.  

    - Que bom.  

   Sua mão então vem em minha direção e eu fecho os olhos. Um medo me tomou, e eu não conseguia parar de chorar.” 

 

      Sua mão se afasta e sinto as lágrimas correndo em meu rosto.  

      - Um presente... - Olho para aquilo, que não se move. - Você me fez assim, porque precisava de alguém para usar.  

      Minha mente está a mil, e eu não consigo raciocinar direito. 

     - Você precisava de alguém para guardar todo aquele poder, e eu fui seu receptor. Você se conectou a mim, é por isso que as coisas começaram a acontecer, porque você viria aos vinte e cinco, mas não apareceu, e quando viu que não conseguiria mais tirar isso de mim, teve que tomar outros métodos.  

     Sinto aquela sombra preencher meu corpo novamente, e dessa ela já alcança meu pescoço.  

     - Você me usou, desdou início, apenas como um receptor. - Subo na beirada do prédio, olhando para tudo se movimentando lá em baixo. - Por isso na noite do bar você disse que meu ego é grande, por isso você me insultou por eu me achar especial. Eu não sou seu filho realmente, eu sou seu intermediador.   

   Podia sentir aquilo subindo meu pescoço, e alguns membros do meu corpo estavam recuando para que eu saísse da beirada.  

    Eu sempre admirei o céu azul, a imensidão que há nele, e toda a beleza que ele traz. Não consigo acreditar que exista pessoas que não sejam simplesmente apaixonadas por essa cor, e como olhar para ela pode melhorar tudo. Eu nuca acreditei no céu, e até aqui de braços para a morte, continuo duvidando que ele exista, mas, se algum dia, aquilo para o que minha mãe reza for real, acredito que ele tenha a mesma calmaria que olhar para o céu azul, e que transmita paz assim como o sol traz alegria.  

   Me inclino então, sentindo o vento me receber. Meus olhos fechados, meu corpo leve, eu realmente me sinto em paz agora. Não importa o que aconteça, não importa o que venha depois, nesse momento, sinto os braços da minha mãe novamente, escuto as risadas de Victor, posso sentir os lábios de Rafaela, e vejo os olhos de Sarah. 

      A voz de Laila soa em minha mente.  

   “Você é forte Arthur, muito forte...” 

. 

. 

. 

 

      Epílogo 

- Mamãe, olha! - A criança apontava para o alto de um prédio a distância. 

   Sua mãe se agacha ao seu lado, olhando na direção.  

- Querido, o que foi? - Ela pergunta, paciente. 

- Mamãe, o homem que estava caindo, ele sumiu. - Aquilo havia impressionado o pequeno garoto que tinha presenciado a cena. 

- Como assim amor? Homem que caiu? Filho, não estou entendendo.  

- Mamãe, tinha um homem lá no prédio, e ele pulou, e enquanto caia de repente ele sumiu.  

   A mulher então se levantou, e tentou enxergar a frente do prédio, para ver se havia algo.   

- Querido, não há nada lá.  

- Mas eu vi! Eu juro que vi! 

   A mãe então suspira, e pega o pequeno garoto nos braços. 

- Tudo bem então. Vamos para casa?  

    O menino sorri para a mãe e concorda, recebendo outro sorriso.  

    Enquanto voltavam, o garoto relembrava a cena do homem caindo, seu corpo era escuro como a noite, e por algum motivo não parecia com medo.  

     Naquela noite, antes de dormir, a cena do homem reapareceu em sua mente.  

  

  

- Qual seu nome?  

   Aquilo o encarava, deixando um medo terrível penetrar seu corpo. O garoto queria correr até sua mãe e fugir dali, mas seu corpo não se mexia. 

- Vikfar. 

Nenhum comentário:

Marca paginas

Versos. (8)