Babys.

Aflição (Capítulo 8)

 Aflição  

Capítulo 8 
 
    Meus olhos se abrem e meus braços me impulsionam a levantar. Puxo o ar com força para meus pulmões que doem com a agitação. Meu corpo treme devido a sensação desconfortável que toma meu corpo.  

    Minha visão é turva e minha cabeça gira, levanto os olhos sem força, me sentindo embriagado. O cenário é escuro, e as pedras sobre meus joelhos doem.  

    Algo surge a minha frente e eu jogo o braço, desnorteado, para afastar o que quer que seja aquilo. Tudo gira, mal consigo levantar minha cabeça, então meus braços cedem sobre o corpo, e meu rosto bate contra o chão, fazendo uma dor aguda atingir meu cérebro. Minha consciência vai se perdendo aos poucos, e não sinto mais nada.  
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   Acordo novamente sentindo um solavanco no corpo, dessa vez, permaneço com o rosto contra o chão.  

    Meu coração bate rápido, e podia ouvi-lo bombear nos meus ouvidos. Não tinha forças o suficiente para me levantar, e meu corpo também não parecia disposto a tal ato. Algumas imagens passam por minha mente, e eu suspiro fechando os olhos. 

    - Bem Arthur, você veio para o Valum, do que exatamente serviu a sua morte? - Digo pra mim mesmo.  

     Por algum motivo, o sentimento de saber que eu havia me matada não era ruim, na verdade, a única coisa que eu sentia ali deitado sobre o chão, era as pedras pressionadas contra a minha bochecha. Firmo meus braços, e me levanto, sentando sobre os próprios pés.  

     Ponho a mão sobre o peito, no mesmo lugar onde avia colocado a faca, e a lembraa vem a minha mente. Levanto os olhos, olhando o conhecido lugar que estava. Estava tudo do mesmo jeito, a cor, a temperatura, o céu limpo, as pedras idênticas, as sombras dispersas. Aquele lugar todo fazia meu corpo esquentar em raiva, meu corpo tremia, e minha mandíbula doía pela força que fazia ao pressionar meus dentes.  

    Me ponho de pé, e começo a caminhar. 

Quando criança, eu tinha a real esperança de que o pós vida seria como o céu que minha mãe acreditava. Um grande campo verde, com uma brisa fresca e um sol brilhante, onde a paz reinaria, e nunca mais nada de ruim aconteceria. Agora, morto, eu sei que não é assim, na realidade, é o completo oposto, e bem, eu particularmente preferiria estar no inferno que minha mãe também falava, do que aqui.”  

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      Andei por um dia. Eu sabia disso por ainda ter o relógio que consegui no porto de Ayora 

     Nada havia acontecido nesse tempo. Nenhum perseguidor tinha aparecido, e não avistei nenhuma pessoa. Eu sentia meu corpo cansado de uma forma diferente, não pela caminhada, e sim como se ele estivesse desligando sem que eu tivesse controle sobre.  

     Mesmo aqui, eu ainda sentia o mesmo pressentimento ruim de antes, como se algo não tivesse acabado, como se a minha morte não tivesse terminado de vez com tudo. 

    Paro os passos subitamente, e observo o horizonte.  

   - Que merda, eu detesto ficar entediado. - Digo. Suspiro, e alongo os braços e pernas, um sorriso surge em meu rosto e meus pés raspam no chão. 

    Meu corpo se move rápido, e minhas pernas são ágeis na corrida que faço. Sinto meu coração bater forte, e meu corpo esquentar. Meus pulmões puxam o ar com força, e me concentro em continuar correndo.  

    - O que?... - Há minha frente tudo escurece meu corpo relaxa, não sinto mais meus pés sobre o chão e por fim, meu cérebro desliga.  

 

 

    Um som repetitivo chama minha atenção, mas meu peito dói demais para que eu me force a abrir os olhos. Consigo ouvir sons de passos e conversas, sinto cheiro de produto de limpeza, material hospitalar e café.  

    Meu corpo formiga levemente, e tenho uma dificuldade para respirar. Sinto um incomodo no rosto, e o barulho repetitivo faz minha cabeça doer. Abro levemente os olhos, e me arrependendo no mesmo momento quando a luz queima minha visão, e viro o rosto para o lado.  

     Com os olhos completamente abertos, vejo as maquinas que emitem barulhos ao meu lado, notificando meus batimentos cardíacos. Uma pontada forte começa de um lado da minha cabeça, e viro o rosto para o outro lado, vendo mais maquinas.  

Um quarto hospitalar... não, não, não, não, eu voltei, alguém me trouxe de volta, não... Porra, eu não morri!” 

    Olho para a porta do quarto, sentindo meu corpo tremer. Meu peito dói cada vez mais, e minha respiração fica mais pesada, junto com as maquinas que tornam o bip, mas continuo e repetitivo. Sinto minha visão ficar turva novamente, e os pensamentos em minha mente irem a mil, procuro tateando pela cama uma forma de chamar uma enfermeira. Encontro um pequeno aparelho abaixo do cobertor, e antes que pudesse apertar, ouço um estalo na porta.  

    Meus olhos tomam foco, e sinto meu peito queimar em dor, minha respiração parar, e as maquinas soarem alto. Victor estava parado em frente a porta, me encarando, sem qualquer expressão no rosto. 

   Meu dedo pressiona forte o botão de chamada, e antes que tudo volte a apagar, um sorrio sombrio surge em seu rosto, e os olhos dele se torna globos pequenos e cinzas deixando meu corpo travado. Tudo em minha pele se arrepia, e ouço as maquinas em um som continuo, minha visão escurece, e fecho os olhos.  

Arthur... 

Saia daqui! 

Arthur... 

Porra, desgruda de mim diabo, vai perseguir outro! 

    Pare de lutar, sua criança insolente. 

Se mata cara, me deixa em paz, passa pra próxima! 

Você vai sofrer, até aceitar seu destino depois disso- 

Não seu Deus psicopata maldito, eu vou acabar com toda essa merda que você quer fazer comigo, eu já estou vivo a mais tempo do que deveria mesmo, seu tempo está acabando, e faltam pouco dias para eu fazer 26, então ou você vai ter que mandar aqueles fudidos da ilha me comerem vivo, ou eu vou matar um por um, e explodir aquela merda!”  

 

     Abro os olhos.  

     Havia médicos ao meu redor, e muito barulho. Eles pareciam perdidos e preocupados. 

     - Doutor, ele acordou... - Todos então param com a fala da enfermeira perto de mim, seus rostos se viram, e parecem assustados.  

    Eles se afastam um pouco, olhando meu corpo. Sinto a máscara de gás em meu rosto me sufocando e levo minha mão para tira-la, mas paro o movimento quando vejo meu braço.  

     Havia uma mancha negra que o cobria por inteiro. Apoio os cotovelos no colchão para erguer meu corpo, e observo que metade dele também está coberto com isso. Sinto meu corpo começar a travar, quando meu olho esquerdo escurece, e tenho minha visão dívida entre a sala hospitalar, e o horizonte do Valum como se meu corpo estivesse em dois lugares ao mesmo tempo. Exatamente do lado, onde a faca havia entrado. 

    Recosto a cabeça no colchão, puxando o ar com força para os pulmões, ainda tendo a visão dívida.  

   - Vai se fuder, seu merda desgraçado. Você me quer vivo né? Então vamos ver até onde está disposto a ir. - Digo, com os dentes rangendo. As pessoas ao meu redor se afastam mais, impulsiono meu corpo para me levantar, e minhas pernas cedem quando se chocam contra o chão, me fazendo apoiar os braços na maca.  

    Olho para a garota a minha frente, que me observa assustada.  

    - Oi gatinha, pode me dizer como eu cheguei aqui? - Dou um meio sorriso em sua direção, e ela engole e, seco. 

   - Rapaz, precisamos que volte a deitar, nós- 

   - Olha amigo – Viro na direção do médico que está atrás de mim. - Era para mim estar morto, então, se vocês não quiserem que eu cometa outro suicídio aqui dentro, é melhor me dizer quem me trouxe aqui.  

    Ele concorda tenso, e olha para os lados.  

    - Um- um outro rapaz fez a ligação para o hospital... Quando chegamos, o senhor já quase não respirava. - Ele engole em seco, e arruma a postura para falar. - Por sorte, a faca não havia ido muito fundo, e não chegou a romper nenhum vaso sanguíneo importante.  

    - Entendi. - Concordo com a cabeça, olhando novamente para a mancha enorme em meu corpo. - E a quanto tempo estou aqui?  

    - Dois dias. A 13h essas manchas começaram a aparecer, e não tivemos nenhuma resposta do que poderia ser.  

     Franzo o senho para sua fala.  

    - Dois dias? Que dia é hoje?  

    - Vinte e três de maio. - A garota minha frente então responde.  

   Um sorriso cresce em meu rosto, e solto uma risada.  

     - Sério? Que maravilha, sabiam que meu aniversário é dia vinte e cinco? - Olho para todos, e começo a sair dali nenhum deles tentam me impedir, mas antes de passar pela porta, os olho novamente.  

     - Bem, eu cheguei com alguma roupa aqui? Detesto essas roupas de hospital.  

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     As pessoas na ruam me encaravam assustadas, e eu fazia o máximo para ignorar, e não mandar ninguém a merda.  

     A casa de Rafaela estava coberta por faixas policiais, e não era possível entrar lá. Decido então ir para o único lugar que não tinha cogitado até então.  

 

    Victor por incrível que parece tinha uma casa própria em um canto de São José. Seus país eram ricos e moravam no Brasil, compraram a casa para ele aos dezoito quando decidiu vir para cá.  

    Não era uma casa grande, mas era dele. A porta do local estava trancada, então tive que quebrar uma das janelas para conseguir entrar. Assim que pulo dentro do local, uma pequena nuvem de poeira se forma, e ouço um miado vindo da sala.  

    Um gato laranja aparece se aproximando de mim, e passando entre minhas pernas.  

    - Oi amigão, estava trancado aqui? - Ele mia novamente, e olho ao redor. - Bem espero que não se incomode de eu ficar por aqui um tempo.  

    O local está um pouco bagunçado, e tudo está sujo. Abro a geladeira e um cheiro forte de podre me atinge, saio de perto, e caminho para o quarto. A cama era grande para alguém que morava sozinho, e avia muitas roupas pelo chão.  

    Por sorte, a luz a água dele ainda estavam funcionando.  

    - Bem, eu vou dar uma limpada nisso aqui, e me organizar. - O gato então vem ao meu lado, e mia. - Vai me ajudar garotão?  

     Me viro para trás e olho para a sala, sentindo meu corpo parar, e minha pele suar frio. Victor estava lá, parado, sem expressão no rosto, como se usassem uma marcara. 

       Engulo em seco, e fecho as mãos em um punho.  

      - Pare com isso agora. Não use a imagem dele para me perseguir seu filho da puta. - O sorriso sombrio então se forma na face do meu amigo, e seus olhos ficam cinzas. O gato em meus pés rosna, e a criatura olha para ele.  

     Ela então abre a boca, desfigurando o rosto de Victor, e a cabeça do pequeno animal explode, espalhando sangue pelo chão.  

    A raiva esquenta meu corpo, e encaro aquilo a minha frente.  

    - O que foi? Está irritado porque não consegue me deixar no Valum é isso? - A criatura olha para mim. - Pois é seu merdinha, eu estou nos dois planos agora sabia? - Levo minha mãe até meu olho esquerdo o cobrindo. - Esse lado vê o Valum, e o outro está aqui. 

    A criatura vira levemente a cabeça para o lado, fechando a boca.  

Não sei dizer se isso a minha frente é um perseguidor, ou se é uma criatura nova. Independentemente do que seja, essa coisa tem duas opções, ou me matar, ou me impedir de morrer, vamos testar a teoria.”  

     Cruzo os braços, e caminho até aquilo sentindo meu corpo se arrepiar.  

    - Sabe, quando aqueles caras da ilha me pegaram, eles falavam um idioma bem diferente, e eu nunca fui bom com outras línguas, mas teve uma frase, que eu os ouvi repetirem mais de uma vez, Letério me Vikfar.” - Sussurro no ouvido daquilo.  

   - E bem, eu sei que seu nome é Vikfar, mas o que caralhos seria “Letério me”? Então, a uns dias atrás, na casa da Rafaela, a garota que você matou. Eu ouvi uma frase, na verdade acho que foi até você que me mostrou, “Filho de Vikfar”. - Fico então de frente para aquilo, a alguns centímetros de distância. - Seu filho? Não, eu não tenho nada a ver com toda essa merda.   

    Como eu imaginei, aquilo não se moveu, ou teve qualquer reação.  

    - Mas, eu sei que por algum motivo eu sou diferente dos outros que você torturou. Eu consegui sair do Valum mais que qualquer um, se eu for realmente seu filho devo estar te dando uma baita dor de cabeça, não é? 

   Me afasto, indo em direção a cozinha e abrindo uma gaveta com talheres dentro. Quando minha mão alcança uma faca, a outra com a mancha segura meu punho com força, me impedindo de movimentar o braço.  

    - E agora, por não conseguir me manter lá, você quer me fazer parte dele, não é? - Minha voz sai alterada, e sinto um sorriso em meu rosto. A mão que segura meu punho aperta com força, me fazendo soltar o objeto pontudo. - Assim, não teria como eu sair novamente, e seria condenado a ficar lá para sempre.  

    Olho para trás e aquela coisa ainda me encara.  

    - Eu adoraria ver sua cara agora seu filho da puta, só pra dizer que você é um deusinho de merda que só sabe torturar as pessoas, e não serve pra bosta nenhum. 

     A mão solta meu braço, e se prende ao meu pescoço, mas não aperta, apenas fica parada contra ele.  

    - Agora, saia daqui. - Digo, e sinto o controle retornar para o meu braço, e a criatura desaparecer em um piscar de olhos.  

    A mancha ainda cobre metade do meu corpo, e minha visão ainda está dívida entre os dois planos. Respiro fundo, acalmando meu corpo que tremia. Ando novamente em direção ao quarto, ignorando o pequeno corpo do animal no chão, e caminhando para o chuveiro.  

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     Já eram por volta das uma e meia da manhã, e meu corpo não queria descansar. Toda vez que eu fechava os olhos, a visão do Valum não sumia, e eu podia sentir a quela mancha aumentando a cada minuto.  

    Havia também o fato de que não tinha apenas um, mas sim três perseguidores pelo quarto me encarando. 

   Me sento na cama, respirando fundo. Meu corpo parecia casado, mas eu não sentia a menor vontade de dormir, analisando bem, eu nem se quer estava sentindo fome.  

    - Você está me tomando aos poucos, é por isso que eu não estou sentindo porra nenhuma? - Digo, olhando os Perseguidores ao meu redor. - Vão se fuder vocês também.  

    Saio de cama e vou até o guarda roupa de Victor procurando algo para usar. Saio da casa usando um casaco preto groso, e uma calça preta qualquer, por sorte minha, Victor usava o mesmo tamanho que eu, e tinha um ótimo gosto para roupas.  

    A noite estava fria, e eu não sabia exatamente o que iria fazer, mas se eu não conseguia dormir, não ficaria apenas deitado com aquelas coisas me observando.  

     

   Depois de um tempo andando pelas redondezas, encontro um pequeno bar aberto. Lá dentro um rádio tocava uma música qualquer, e havia apenas cinco pessoas, da qual quatro me olharam assustadas quando eu entrei. Um senhor sentado sozinho não parecia ter me notado.  

Bem, é com ele mesmo que irei sentar.” 

    Puxo uma cadeira ao seu lado na mesa, ainda sendo ignorado. Ele respirava devagar, enquanto olhava para o seu copo de cerveja. Tinha um bigode falhado, e não fedia como a maioria dos bêbados. Um garçom se aproxima, e olhando ao redor agora, nenhuma das pessoas presentes carregam um Andarilho.  

    - Olá rapaz, o que vai querer? - Dá pra notar que ele está um pouco nervoso em se aproximar. Olho para o copo do senhor comigo na mesa e aponto para ele.  

    - O mesmo que o velhote aqui. - Digo, por fim.  

    - Você, tem certeza? Essa coisa aqui é bem forte, nem ser como Luís consegue beber tanto disso.  - Olho novamente para o senhor que agora sei se chamar Luís, e concordo.  

    - Sim, pode trazer.  

    O garçom então apenas concorda e se afasta.  

    Me inclino na cadeira, e consigo ouvir algumas das pessoas presente sussurrando, e sei que estão falando de mim, mas ignoro. Luís não se movimentou desde que cheguei, o que não sei dizer se estava bêbado a ponto de desmaiar sentado, se dormiu, ou apenas morreu ali mesmo.  

    Levo uma de minhas mãos para encostar em seu braço, mas antes que chegue a ele, seus olhos se voltam para mim, e são globos negros como a noite. Ele me encara sem dizer nada, meu braço ainda parado no ar.  

    - Se acha mesmo tão especial assim Arthur? - Sua voz era grossa, e um arrepio correu pelo meu corpo.  

    Uma pressão se fez presente no local, e eu comecei a sentir dificuldade para respirar. 

    - O que... - Eu não conseguia terminar a frase, estava paralisado demais para isso.  

    - “deusinho de merda” é isso mesmo? - A pressão havia aumentado a um ponto que senti que meus pulmões fossem explodir. - Sua criatura imunda, e megera. Você nunca foi nada, sempre teve esse ego enorme para si mesmo, fazendo você se sentir mais especial que as outras pessoas. Me dá nojo o fato de você ser chamado de meu filho.  

     - Você... - Minha boca não conseguia soltar as palavras, e minha consciência parecia prestes a ir embora pela dor que fazia em minha cabeça.  

    - Ponha-se no seu lugar, seu verme maldito. Você irá morrer de maneira cruel, quando, onde, e por quem eu quiser. - Seu rosto se aproxima de mim. - E não há nada que possa fazer para impedir.  

    Meu corpo queima de dor, e não consigo gritar.  

    - Então... me mate... eu vou voltar... - Digo, juntando todas as minhas forças restantes para falar. 

     Ele sorri, e é um sorriso perturbador.  

     - Não, ainda não. E não se preocupe, da próxima vez que morrer, você não terá a graça de se prender ao Valum, não. Eu farei você se transformar em uma das coisas que você mais odeia nessa sua vida miserável. - Sua boca se aproxima da minha orelha, e não consigo me mover para afastar. - Metari one turo ita Boreãs.*  

   Aquilo eu consegui entender, ele permitiu que eu entendesse.  

    Rastejara por aí como Andarilho. 

    Subitamente, aquela sensação some, e tudo volta a tocar. O som de rádio se faz presente, as conversas, e o senhor volta a posição original. 

    Meu corpo treme descontroladamente, e não sinto minhas pernas para levantar e sair daqui. O garçom se aproxima trazendo minha bebida.  

   - Santo Deus garoto, você está branco, o que aconteceu? Porque está tremendo tanto? - Ele põe a mão em meu ombro, e recuo bruscamente, o que o faz se afastar também.  

    - Ei Juan, traz mais uma para mim. - O senhor atrás de mim então levanta a voz, e meu corpo automaticamente se fasta, fazendo eu cair no chão.  

   - Ei, você está bem? - O garçom pergunta novamente.  

   Me apoio na mesa, ainda tremendo e levanto, me afastando dali.  

   Quando sai para fora, um vento frio me atinge, e olho ao redor, vendo os três perseguidores ainda ali. Bile sobe minha garganta, e corro até uma lixeira, colocando tudo que tinha dentro no meu estômago para fora. Me sento no chão, limpando a boca com uma das mãos. Abraço meu corpo ainda sentindo tudo tremer, meu peito dói, e minha garganta arde.  

    Meus olhos focam em um beco escuro ao lado do bar, onde algo lá me encara, e faz meu corpo esquentar em medo e terror. Os olhos daquela coisa então somem, e minha cabeça dói fortemente.   

O que eu vou fazer? Porra, ele apareceu, e caralho, eu mal conseguia fechar os olhos. Ele está atrás de mim, e está irritado. Eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer.” 

    Minha respiração estava pesada, minha visão girava, e uma dor forte apertava meu peito.  

    - Eu... eu quero a minha mãe... 

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      O toque repetitivo da chamada me incomoda, e o frio fazia arder meus olhos.  

      Já fazia meia hora dês do ataque de pânico que tive, e quando consegui me levanta, caminhei até a cabine telefônica mais próxima e disquei número da minha mãe.  

      Era a terceira tentativa de contato que eu estava fazendo, e já estava desistindo quando a chamada é atendida.  

     - Oi, quem é?  

     - Mãe! Mãe. - Minha voz era ansiosa, e um sorriso se formou aos poucos em meu rosto.  

     - Arhur? - A voz dela era lenta, e um pouco rouca. - Oi meu bem.  

     Sinto meus olhos arderem, e uma lágrima descer pela minha bochecha.  

    - Oi, mãe... eu to com saudades. - Minha voz já estava embargada pelo choro, e escuto uma pequena movimentação pelo telefone.  

     - Meu amor, eu também, mas querido, são três e quarenta da manhã, poderia ter me ligado mais tarde. - A chamada fica em silencio, e tudo que quero é aproveitar a voz dela.  

     - Mãe, eu... eu, aconteceu umas coisas nos últimos dias, e eu, não sei o que fazer... - Digo, e minha for sai mais tremula.  

    - Meu bem, você está chorando? - Fungo, e ouço um suspiro. - Querido, olha, não chore.  

    Fico em silencio, não conseguindo parar as lágrimas.  

    - Lembra... lembra daquele desenho que tinha lançado nos cinemas quando você era jovem, e você ficou viciado? - Ela diz, e eu franzo o cenho. - Eu não lembro o nome, era alguma coisa com hamburguer, Tá caindo Hambúrguer”, eu não lembro direito.  

   - Tá chovendo Hambúrguer? - Digo, dando uma pequena risada.  

   - Isso mesmo – Ela ri do outro lado da linha, e meu coração se aquece com o som. - Eu lembro que você tinha amado aquele filme, e me fez assistir umas dez vezes quando lançou em DVD.  

     Limpo algumas lágrimas do meu rosto.  

    - Porque está falando isso mãe?  

    - Tinha uma frase, que eu passei a falar para você toda vez que ficava mal. Lembra das criaturas que você via? - Não digo nada, apenas esperando ela terminar. - Toda vez que você se sentia mal, eu repetia pra você “Quando chove, a gente se cobre” mesmo que você não entendesse, pra mim, tinha significado.  Era minha forma de falar que eu estava com você meu bem, era o meu jeito  de dizer “eu estou aqui”. 

      - Mãe, eu.. 

     - Quando... você tinha uns seis, sete anos, você chorava demais amor. Era basicamente o tempo todo. – Ela solta uma leve risada, e eu  volto a ficar em silêncio. Você vivia  falando sobre as sombras que via, e eu sabia que você odiava aquilo. Você tinha tanto medo que ficava dias sem sair de casa. E vez ou outra, mal chegava perto de mim.. 

      Agora ela também chorava, e aquilo doía em mim. 

   - Me desculpa... 

   - Não, querido, me deixe terminar. - Ela respirar do outro lado da linha. – Apesar de tudo, eu sempre te amei profundamente meu bem, sempre. Eu fiz de tudo para que você se sentisse bem, e que se sentisse como todas as outras crianças. Eu acreditei em cada palavra sua, e orei todos os dias para que aquelas coisas fossem embora, e mesmo depois que você começou a falar que tudo aquilo tinha sumido, eu sabia que era mentira, podia ver pela hesitação que você sentia em lugares públicos, e pelo desconforto que tinha em grandes multidões. 

     Eu chorava sem parar, e os soluções que eu soltava eram altos. 

   - Então meu bem, independentemente do que esteja passando, eu estou aqui para te apoiar, e ser sua mãe. 

    Concordo com a cabeça, mesmo que ela não veja. 

    - Eu te amo mãe. 

    - Eu te amo filho. 

     Desligo o telefone, e me sento no chão, deixando toda a tristeza sair de mim pelas lágrimas. Tudo doía, e eu só queria que acabasse de uma vez, mas a voz dela surgiu em minha mente novamente.  

    “Quando chove, a gente se cobre.” 

      - Mãe, obrigado por tudo. Limpo o rosto e me levanto, saindo da cabine.  

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